quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Paradoxo da desigualdade no Brasil.


Desde a expedição Jesuíta a Vila de Jaguaripe em 1650 os habitantes e visitantes mais bem informados reconhecem que à caatinga do Alto Jiquiriçá, onde os rigores do semi-árido mostram até os dias de hoje um sertão castigado pelas estiagens, em altitudes que atingem até 1.000 metros.A aridez da região é compensada pela floresta estacional e as riquezas naturais no entorno do rio, o que atraiu muitos habitantes para região e o tornou uma das principais referências naturais.A floresta outrora com ocorrências bastantes fechadas está hoje totalmente descaracterizada pelos constantes desmatamentos e as águas outrora abundantes, parecem desaparecer a cada dia, deixando a região mais seca e menos exuberante.Há anos Os telefones públicos de Jaguaripe não funcionam a anos e os comerciantes e moradores da região sofrem com condições de limpeza precária e falta de luz. A situação socioeconômica destes Municípios é gravemente precária, com uma grande porção de sua população numa linha de pobreza que é evidenciada pelos dados censitários, que indicam que 9% dos responsáveis por domicílios não auferem nenhum rendimento e 78% têm rendimentos inferiores a dois salários mínimos.As atividades econômicas predominantes estão no campo, com uma agricultura frágil e escassamente rentável. A indústria é de pouca contribuição para o produto regional e a área de serviços ainda muito pequena. Destaca-se o crescimento do turismo nos últimos anos na região devido a seu patrimônio natural e cultural.
Os padrões de saúde e educação são baixos, sendo crítica a questão do
analfabetismo e da saúde. Com tristeza constata-se ainda,
na Bacia do Jiquiriçá, a existência de 110.000 analfabetos adultos.A bacia do rio Jiquiriçá vem sofrendo impactos ambientais de grande magnitude, sobre o solo, a vegetação, a fauna e os recursos hídricos. Pode-se considerar que seu quadro ambiental se caracteriza por um desgaste crescente dos recursos naturais, com a conseqüente deterioração de seus ecossistemas, decorrente de utilização de processos agropecuários inadequados, desmatamentos, com perda de biodiversidade, processo adiantado de erosão e perda de solos, reduzida disponibilidade de informação sobre o uso da água, instabilidade e desequilíbrio na regulação do balanço hídrico, economia extrativista, ausência de planejamento urbano e municipal, falta de infra-estrutura nos assentamentos urbanos, fragmentação da Administração Pública.
Em poucos dias mais de 15.000 pessoas impulsionadas pela proposta de “comemorar a vida, a sobrevivência da cultura alternativa e a riqueza de fazê-lo de forma poética através das artes” reuniram-se na paradisíaca Praia do Garcez localizada na região para a décima edição do Universo Paralello.
Voltamos essa semana de mais um festival, enebriadas pela riqueza de sons e diversidade que encontramos por lá com a certeza de que apesar dos pesares algo de poesia e unicidade ainda permanece nesse público psicodélico de cores tão gastas, o que muito me anima. É claro que a precária infra-estrutura foi péssima para o público que se sentiu enganado e revoltado, e talvez por algumas edições os organizadores desse festival, os heróis da resistência do trance, sintam o efeito da perda de público devido as condições submumanas de higiene que nós nos encontrávamos.Voltamos com inúmeras alergias de pele, infecções e também nos sentimos enganadas por não termos recebido nenhum retorno em termos de infra-estrutura por parte da organização da festa. Não vou discutir aqui soluções engenhosas para que aquele problema fosse revertido a tempo, pois esta ocupação deveria ter sido dos organizadores a tempo, e não foi feito. Agora só resta aos sobreviventes do perrengue como nós comemorarmos a perda de público do festival e torcer pra que fique cada vez mais vazio e quem sabe aos poucos não volte à origem da proposta. Eu continuo acreditando!Nem tão inocentemente assim, fiz uma coisa que nunca havia feito anteriormente por achar uma disputa de ego e auto afirmação tribal desnecessária: entrei em um desses fóruns de sites de música eletrônica para perceber as opiniões de calouros e veteranos sobre a batalha que foi sobreviver, aproveitar e transcender em meio aquelas precárias condições de higiene em que vivemos nesses dias.Enojada é o mínimo que posso definir o meu estado depois de ler tanta merda. Quanta gente babaca, pequena, manipulada pelas delimitações impostas pelas mídias sociais acerca da música eletrônica que ainda se amparam na crítica ao barulho do Skazi, Infected, GMS e 1200 mics pra se auto afirmarem entendedores de trance.Criticam a falta de estrutura buscando explicações conspiratórias acerca do descaso da produção neste festival reduzindo a comunidade da música eletrônica a um teatro mercenário a beira da falência. Sem falar naqueles que se denominam veteranos do trance e buscam a afirmação de sua tribo na oposição anarquista as novas idéias e aos festivais. “Isso eu não curto mais, já curti o que era bom, agora eu deixo festival para os novatos!” Tribo essa que no mínimo desconhece a história da música e o princípio básico que a renovação traz a prosperidade e resistência.Levantar a bandeira de “Eu já curti tudo que foi bom, hoje em dia é tudo lixo” É realmente tão orgástico a ponto de subverter a vontade musical? O egoísmo da disputa entre “os conhecedores da cena” nesse meio é tão latente que torna o nosso público cada dia mais ignorante e fragmentado. A onda é dizer que não somos mais “o público”.Acredito que esse pensamento pobre faz com que surjam esses delírios persecutórios que a onda dos tubarões do trance é realmente rir da cara do público sujo (ufa ainda bem que eu sou esperto e não sou “do público!”) e fedorento enquanto se banha em rios de ouro.
De forma alguma defendo a produção da festa, óbvio que rolou falta de planejamento.Ataco sem pudor a exploração da mão de obra local que trabalhou por 5 dias corrido sem banho, já falamos tanto de exploração por aqui...Mas quer saber? O cenário estrutural da festa era realmente incrível. A experiência psicodélica virando experiência real de vida, ver a galera endinheirada virar índio cagar no mato, pagar pra tomar banho para uma população que toma banho de gelo a meses, não teve preço ver o sorriso bilontra da população em capitalizar a água subvertendo as regras impostas pelos organizadores em nome do mínimo de ordem no caos, vendendo a água que eles mesmo não usam.Isso sim é psicodelia ativa. Por alguns momentos o nosso público com triste histórico usurpador foi participante da realidade local do que era pra ser apenas “mais um playground”. E na volta a realidade da tragédia em Angra e Duque de Caxias.Na enchente de Angra em 2002 meu pai e a sua família perderam tudo e resolveram abandonar a região do Perequê sob promessas da administração local que a situação das construções ilegais dos milionários seria regularizada e a população não mais sofreria tanto com as mudanças climáticas. A esperança virou lama no dia 31 de Dezembro de 2009.Os deslizamentos de terra que nos últimos dias mataram mais de 40 pessoas em Angra dos Reis, litoral sul do Rio de Janeiro, afetaram tanto os mais ricos - que trouxeram elegância e fama à cidade e a suas centenas de ilhas na década de 80 atraídos pelos recursos do petróleo e do turismo na região Os ricos ocupam os morros dali tanto quanto os pobres. Moradores denunciam que, além da condição social, o tratamento também tem sido diferente em meio à crise. Na manhã deste sábado (2) as equipes de resgate localizaram mais corpos na região do deslizamento que atingiu a pousada Sankay, na praia do Bananal, em Ilha Grande, distrito de Angra dos Reis. Com isso, o número de mortos na área, onde os trabalhos não pararam desde o incidente da madrugada de ontem, avançou para 28.
Já no morro da Carioca, parte pobre da área continental da cidade, 13 mortos foram encontrados. Ali, no entanto, os trabalhos foram interrompidos durante a noite e retomados na manhã deste sábado. Apesar das críticas dos moradores, o Corpo de Bombeiros informou que interrompeu as buscas por conta de risco de novos deslizamentos na região ocupada principalmente por migrantes atraídos por recursos do petróleo e do turismo. Além do sofrimento de verem todos os seus bens virar lama e reconhecer entes queridos no IML a população ainda tem que lidar com um tratamento extremamente diferenciado no resgate de pobres e ricos.
Mudando não tanto de assunto,hoje nossa família está de luto pela desgraça dos que nasceram pretos nesse país hipócrita e miserável.A nossa justiça não tem espaço para avaliar pessoas dignas e puras, sobrou pra gente neste início de ano a perplexidade da escória social em que vivemos. Com coração estraçalhado eu torço com todas as minhas forças, como mamãe se envergonharia se soubesse, que sejam punidos com a justiça da malandragem (pq na divina ta difícil de acreditar) todos os mentirosos e aproveitadores que de alguma forma compactuaram com a situação suja e criminosa a que me refiro e da qual só quem ta junto sabe.E que permaneça assim.

Um comentário:

  1. Erratas:
    - Mais de 52 mortos em Angra até o momento.
    - "Heróis da resistência do trance" deveria vir entre aspas pra acentuar a ironia da frase.
    - "Angra dos Reis, litoral sul do Rio de Janeiro, afetaram tanto os mais ricos - que trouxeram elegância e fama à cidade e a suas centenas de ilhas na década de 80 atraídos pelos recursos do petróleo e do turismo na região, quanto os pobres"

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