segunda-feira, 20 de abril de 2009

É MELHOR NÃO CONTAR

O sujeito que é brasileiro, trabalhador, empregado, vive de sentimentos extremos, angustia e alívio. Não é que sejamos depressivos, mas a verdade é que o indivíduo inicia todos os meses do ano devendo. Trabalha uma média de vinte e quatro dias por mês, mais horas do que a lei estabelece, sem contar as extras e o trabalho que leva para casa.

Durante todo esse tempo em que sua mente, seu corpo e até sua alma produzem alguma coisa seu pensamento é o mesmo, há dívidas para pagar. E as dívidas têm um imenso poder, na hora das compras elas parecem pequenas, ao serem ‘divididas em suaves prestações’, se não tem dinheiro para pagar à vista, usa-se o carnê ou o cartão de crédito.

Às vezes, quando se tem alguma quantia, o sujeito fica na dúvida entre comprar a vista ou a prazo, é preferível guardá-la porque mais tarde pode-se precisar. Quando a fatura chega, no meio das outras correspondências, é jogada em cima da mesa, da geladeira, na gaveta sem pressa alguma de ser conferida porque seu conteúdo não é um dos mais desejáveis.

Alguém deve pensar, existe coisa mais sem lógica do que já nascer devendo? A vida do brasileiro é assim e a Economia é capaz de explicar esse fenômeno. No entanto, quem vai lembrar disso na hora em que se depara com os preços pequenininhos, escritos em letras gigantes, acompanhados de intermináveis prestações, escritas em letras quase ilegíveis?

A alegria de levar o celular, o computador, o vestido, o sapato suprime o peso da dívida que vai se arrastar, muitas vezes, além da vida útil do objeto. Mas tudo se justifica no dia do pagamento. O sujeito sente um alívio sem tamanho porque vai ter as verdinhas nas mãos. Porém, o dinheiro, que também faz mágica, desaparece rápido demais.

Feliz daquele que ainda enfrenta uma fila sem tamanho no banco para depois de receber o “dindin”, contar e recontar as cédulas antes de entregá-las nas mãos de pessoas estranhas. A maioria das pessoas nem sabem quais as figuras que preenchem um dos lados das notas porque o banco faz o repasse automaticamente.

Meu pai costuma dizer que a culpa é do sistema capitalista, quem não deve, nada tem. Se você compra tudo à vista não tem nome na praça e pior do que não ter dinheiro para pagar na hora, é não ter crédito para comprar coisa alguma.
Entre a aflição da dívida e a felicidade da compra, prefiro concordar com ele. E você?

3 comentários:

  1. O sistema nos deixa cada dia mais alienado (excesso de informações e hiperlinks) e alienável. Sem conta bancária trabalhando com dinheiro vivo nos tornamos inscipientes para a economia e as portas do mercado e do próprio sistema se fecham. Uma vez abrindo as pernas para o sistema e o crédito abrimos caminho para um abismo de dívidas.Contradições muito além da dialética nos algemam e censuram a cada dia.

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  3. O culto à imagem (imagética), base do fetichismo (voyeurismo), faz com que, aqueles que "relaxam" diante de uma telenovela, um programa tipo Big Brother, entendam que não há necessidade em se viver a sociedade, o mundo, a humanidade. Reproduzem, simplesmente, o senso comum burguês justificando suas regalias: "não há mesmo como mudar o sistema ! Quem abrirá mão de seus privilégios ?!" Relembrando Frei Beto, todos os seus gostos e vontades são satisfeitos através dos 7 pecados capitais muito bem explorados pela sociedade de consumo em suas propagandas. Não se trata de se isolar do sistema, desligando a TV. Entretanto, não nos esquecendo disto, que façamos algo para que aconteça a revolução, aquela vivenciada por tant@s companheir@s perseguidos por questões econômico-políticas (Jesus Cristo, Rosa Luxemburgo, Ernesto Che Guevara...)que se insurgiram contra o sistema. E, diante de tais propagandas ideológicas, que não nos percamos de nós mesmos, de nossos semelhantes, próximos e distantes. Nossa família tanto está aqui, quanto na faixa de Gaza, na Etiópia e em Honduras.

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